A família do líder seringueiro Chico Mendes, morto em 1988,
ganhou na Justiça o direito de receber indenização da Rede Globo, que
contou sua história na minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes".
A
viúva e os três filhos de Mendes alegaram que a emissora utilizou a
história para obter lucro, sem autorização para explorar sua imagem.
A minissérie, escrita por Glória Perez, foi exibida em 2007, com Cássio Gabus Mendes no papel do seringueiro.
Os
familiares do sindicalista pediram R$ 23,2 milhões como indenização por
danos materiais, danos morais e utilização indevida dos direitos de
personalidade. A juíza Ivete Tabalipa aceitou apenas o primeiro item e
determinou que a Globo pague 1% dos
lucros obtidos com a produção.
A decisão da Justiça do Acre, de primeira instância, foi publicada nesta semana. Ainda cabe recurso.
Na
ação, a juíza disse que "a obra televisiva não é um documentário" ou
reportagem e que foi feita sem "finalidades beneficentes ou
científicas". Por isso entende que a autorização de uso da imagem era
necessária.
A emissora disse que não comentará a decisão e que irá recorrer. Também
não informou o lucro da produção.
De
acordo com a sentença, a Rede Globo argumentou à Justiça que os
familiares "consentiram tacitamente" com a utilização da imagem do
seringueiro e que a viúva sabia até mesmo qual atriz a representaria na
trama. A emissora afirmou também que reproduziu fatos conhecidos
nacionalmente.
POLÊMICA
A mesma juíza foi autora de duas decisões semelhantes. Em março, condenou a Globo a indenizar
em 0,5% dos lucros a família do seringueiro Wilson Pinheiro, também retratado na minissérie.
Pinheiro também atuou na defesa da floresta e foi morto em 1980, quando
presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (AC).
"Quando a família de Chico Mendes entrou na Justiça, decidimos pedir
indenização também, pois não assinamos nada e não recebemos nada", disse
Hiamar Pinheiro, 47, filha de Wilson Pinheiro.
A viúva
de Chico Mendes, Ilzamar Mendes, 48, ganhou outra ação em que reclama da "forma equivocada e inverídica" como apareceu na TV.
Ilzamar afirmou que, depois de uma cena em que a personagem com seu nome
leva o marido para trás de uma árvore, foi chamada nas ruas de
"assanhadinha".
Ilzamar pediu R$ 3 milhões, mas a Justiça concedeu 0,05% dos lucros da trama.
O advogado Marcos Vinícius Jardim Rodrigues, que atuou nas três ações,
disse que vai recorrer das sentenças, por considerar "ínfimos" os valores estabelecidos.
As famílias dos seringueiros já haviam pedido indenização à Warner pela
realização do filme "Amazônia em Chamas", de 1994, com o ator Raul
Julia.