Uma análise rápida dos resultados eleitorais para a eleição presidencial nos permite opinar que a candidata Dilma Rousseff (PT) só deixou de ganhar a eleição no primeiro turno pois uma parte de seus eleitores, na última hora, migrou para a candidata do PV, Marina Silva. E este eleitorado está concentrado principalmente na classe média urbana e na juventude. São eles que Dilma deve reconquistar para garantir uma vitória respeitável no segundo turno.
por Cláudio Gonzalez
Com 100% das urnas apuradas, a candidata Dilma Rousseff (PT) obteve 46,91% dos votos válidos. José Serra (PSDB) ficou com 32,61%. Marina Silva (PV) conseguiu 19,33%. Os demais candidatos não alcançaram 1% dos votos. Quem chegou mais perto disso foi Plínio Arruda Sampaio (P-SOL) que obteve 0,87%. Eymael (PSDC), Zé Maria (PSTU) e Levy Fidelix tiveram cada um 0,1%. Ivan Pinheiro (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) tiveram tão poucos votos que com o arredondamento pontuam 0%.
Dilma venceu em quatro regiões, mas perdeu para Serra no Sul. No Nordeste e no Norte, Dilma ganhou com folga, mas liderou com vantagem menor no Sudeste e no Centro-Oeste.
No Sul, Serra ganhou, com 43,01%. Dilma teve 42,10%; e Marina, 13,64%. No Centro-Oeste, Dilma venceu por pequena vantagem, com 38,89%, contra 37,97% de Serra e 20,94% de Marina.
No Nordeste, Dilma teve o melhor desempenho com 61,63%. Serra obteve 21,48%; e Marina, 16,14%. No Norte, Dilma ficou com 49,23%; Serra, 31,95%; e Marina, 17,88%.
No Sudeste, região com o maior número de eleitores, Dilma obteve 40,88%, contra 34,58% de Serra e 23,18% de Marina.
Dilma venceu em 18 estados e Serra liderou em oito: Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e São Paulo. Marina ganhou no Distrito Federal, onde conseguiu 41,96% dos votos válidos, e ficou em segundo lugar em cinco estados – Acre, Amapá, Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro. No Ceará, ela empatou com Serra (16,36%).
Marina cresceu tirando votos de Dilma
Sete dias antes do primeiro turno, Marina Silva alcançava, na média das pesquisas, 15% dos votos válidos, enquanto Dilma tinha em média 53% e Serra 30%. Fica evidente que o crescimento da candidata verde na reta final deu-se subtraindo votos de Dilma. Isso aconteceu particularmente nas grandes cidades do Sudeste e entre o eleitorado mais jovem. Nos quatro estados do Sudeste (SP, ES, MG e RJ) Marina obteve mais de 20% dos votos. Dilma perdeu votos para Marina também entre eleitores evangélicos, da classe C, submetidos nos últimos dias da campanha a uma avalanche de baixarias com viés moralista e religioso espalhadas pela internet por apoiadores do candidato tucano José Serra.
A perseguição implacável da grande imprensa contra a candidata de Lula também ajudou a subtrair apoios que a petista tinha entre o eleitorado de classe média, mais suscetível ao denuncismo da mídia.
Pesou também contra Dilma, creio eu, uma certa dosagem exagerada da presença de Lula nas atividades de campanha e na TV, o que acabou ofuscando a candidata. Ainda que tomar para si o legado deste governo seja o grande trunfo de Dilma, é preciso cuidar para que a campanha dê à ela mais autonomia e identidade, mostrando que Dilma será uma boa presidente por seus próprios méritos e não apenas porque Lula assim desejou. A ex-ministra tem qualidades de sobra para isso.
Classe média
O forte apoio de Lula fez o eleitorado do Nordeste e da maior parte do Norte, além do Rio Grande do Sul e quase todo o Sudeste (com exceção de São Paulo), continuar apoiando majoritariamente a candidata do PT. Mas Dilma viu sua liderança ser superada por Serra em SC, PR, SP e em quase todo o Centro-Oeste (com exceção de GO), além de três estados do Norte (RR, RO e AC). Nestes estados, a diferença entre Dilma e Serra foi pequena, mas suficiente para impedir a vitória no primeiro turno. A preferência por Dilma balança justamente naqueles setores e localidades que não conhecem bem ou não mantém vínculo direto com os projetos sociais e as realizações do atual governo.
Ainda que a internet agregue a opinião de um universo bastante reduzido de brasileiros, pode-se perceber pelas redes sociais que a chamada #ondaverde que levou Marina a uma votação próxima dos 20% cativou boa parte da juventude não-partidária, porém com tendências progressistas. Parte destes eleitores nunca pretenderam votar em Serra, mas precisarão ser cativados pela campanha de Dilma no segundo turno para que possam migrar da #ondaverde para uma #ondavermelha.
A oposição de direita, que dava como certa a derrota no domingo, sai psicologicamente fortalecida do primeiro turno, apesar de não ter conseguido ampliar seu eleitorado a ponto de ameaçar o favoritismo da candidata do governo. A candidatura de Serra não conseguiu empolgar novos setores do eleitorado, ainda está baseada, no geral, no eleitorado mais rico e conservador e naqueles que mesmo sendo das classes C, D e E ainda alimentam algum tipo de preconceito contra o PT.
Apoios para o segundo turno
Ao discursar neste domingo após a confirmação do segundo turno, Marina Silva anunciou que defenderá a realização de uma plenária de seu partido, o PV, com segmentos sociais que a apoiaram, para decidir quem o partido vai apoiar. "O partido vai ter que fazer uma discussão nas suas instâncias e, por respeito aos que fizeram aliança conosco, vai ter de também convidá-los para debater as nossas posições", disse.
Marina mandou recados para a direção do PV, próxima do PSDB e inclinada a manifestar apoio imediato a José Serra. O PV participava da gestão tucana no governo de São Paulo e estava coligado com os tucanos no Rio de Janeiro.
"A nossa decisão será uma decisão que não tem nada a ver com a velha política que se apressa em manifestar uma posição só para vislumbrar pontos lá na frente", cutucou.
Por sua trajetória e seu perfil, a tendência pessoal de Marina é apoiar a candidatura do PT. Sem dúvida, seria uma grande ajuda para Dilma se Marina viesse a público manifestar seu apoio. Mas como essa é uma possibilidade incerta, resta à campanha de Dilma não perder tempo e já começar a construir discursos, propostas e iniciativas para buscar a adesão do eleitorado que votou em Marina no primeiro turno.
Precisa, também, capitalizar as importantes vitórias conquistadas pelos partidos da base de apoio do governo Lula nas disputas para governos estaduais, Senado e Câmara Federal. Revigorados pela vitória e desobrigados da tarefa de buscar a própria sobrevivência nas urnas, estes governadores, senadores e deputados eleitos devem ser chamados a dar uma contribuição ainda mais incisiva à vitória de Dilma no segundo turno do que deram no primeiro turno.
Em 2006, a campanha de Lula pela reeleição conseguiu, no segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB), não só atrair os eleitores que deram votos a outros candidatos no primeiro turno, como também arrancou uma parcela considerável dos votos do próprio tucano. Fez isso desmascarando a candidatura da direita e mostrando aos eleitores os perigos que a volta ao passado neoliberal representa.
Agora em 2010, quando o encadeamento dos fatos mostram um quadro muito semelhante ao de 2006, não há motivos para que Lula, Dilma e seus aliados não lancem mão desta estratégia. Afinal, Serra, mais do que Alckmin, carrega consigo as marcas de um passado desastroso que o Brasil não quer de volta.
Dilma venceu em quatro regiões, mas perdeu para Serra no Sul. No Nordeste e no Norte, Dilma ganhou com folga, mas liderou com vantagem menor no Sudeste e no Centro-Oeste.
No Sul, Serra ganhou, com 43,01%. Dilma teve 42,10%; e Marina, 13,64%. No Centro-Oeste, Dilma venceu por pequena vantagem, com 38,89%, contra 37,97% de Serra e 20,94% de Marina.
No Nordeste, Dilma teve o melhor desempenho com 61,63%. Serra obteve 21,48%; e Marina, 16,14%. No Norte, Dilma ficou com 49,23%; Serra, 31,95%; e Marina, 17,88%.
No Sudeste, região com o maior número de eleitores, Dilma obteve 40,88%, contra 34,58% de Serra e 23,18% de Marina.
Dilma venceu em 18 estados e Serra liderou em oito: Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e São Paulo. Marina ganhou no Distrito Federal, onde conseguiu 41,96% dos votos válidos, e ficou em segundo lugar em cinco estados – Acre, Amapá, Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro. No Ceará, ela empatou com Serra (16,36%).
Marina cresceu tirando votos de Dilma
Sete dias antes do primeiro turno, Marina Silva alcançava, na média das pesquisas, 15% dos votos válidos, enquanto Dilma tinha em média 53% e Serra 30%. Fica evidente que o crescimento da candidata verde na reta final deu-se subtraindo votos de Dilma. Isso aconteceu particularmente nas grandes cidades do Sudeste e entre o eleitorado mais jovem. Nos quatro estados do Sudeste (SP, ES, MG e RJ) Marina obteve mais de 20% dos votos. Dilma perdeu votos para Marina também entre eleitores evangélicos, da classe C, submetidos nos últimos dias da campanha a uma avalanche de baixarias com viés moralista e religioso espalhadas pela internet por apoiadores do candidato tucano José Serra.
A perseguição implacável da grande imprensa contra a candidata de Lula também ajudou a subtrair apoios que a petista tinha entre o eleitorado de classe média, mais suscetível ao denuncismo da mídia.
Pesou também contra Dilma, creio eu, uma certa dosagem exagerada da presença de Lula nas atividades de campanha e na TV, o que acabou ofuscando a candidata. Ainda que tomar para si o legado deste governo seja o grande trunfo de Dilma, é preciso cuidar para que a campanha dê à ela mais autonomia e identidade, mostrando que Dilma será uma boa presidente por seus próprios méritos e não apenas porque Lula assim desejou. A ex-ministra tem qualidades de sobra para isso.
Classe média
O forte apoio de Lula fez o eleitorado do Nordeste e da maior parte do Norte, além do Rio Grande do Sul e quase todo o Sudeste (com exceção de São Paulo), continuar apoiando majoritariamente a candidata do PT. Mas Dilma viu sua liderança ser superada por Serra em SC, PR, SP e em quase todo o Centro-Oeste (com exceção de GO), além de três estados do Norte (RR, RO e AC). Nestes estados, a diferença entre Dilma e Serra foi pequena, mas suficiente para impedir a vitória no primeiro turno. A preferência por Dilma balança justamente naqueles setores e localidades que não conhecem bem ou não mantém vínculo direto com os projetos sociais e as realizações do atual governo.
Ainda que a internet agregue a opinião de um universo bastante reduzido de brasileiros, pode-se perceber pelas redes sociais que a chamada #ondaverde que levou Marina a uma votação próxima dos 20% cativou boa parte da juventude não-partidária, porém com tendências progressistas. Parte destes eleitores nunca pretenderam votar em Serra, mas precisarão ser cativados pela campanha de Dilma no segundo turno para que possam migrar da #ondaverde para uma #ondavermelha.
A oposição de direita, que dava como certa a derrota no domingo, sai psicologicamente fortalecida do primeiro turno, apesar de não ter conseguido ampliar seu eleitorado a ponto de ameaçar o favoritismo da candidata do governo. A candidatura de Serra não conseguiu empolgar novos setores do eleitorado, ainda está baseada, no geral, no eleitorado mais rico e conservador e naqueles que mesmo sendo das classes C, D e E ainda alimentam algum tipo de preconceito contra o PT.
Apoios para o segundo turno
Ao discursar neste domingo após a confirmação do segundo turno, Marina Silva anunciou que defenderá a realização de uma plenária de seu partido, o PV, com segmentos sociais que a apoiaram, para decidir quem o partido vai apoiar. "O partido vai ter que fazer uma discussão nas suas instâncias e, por respeito aos que fizeram aliança conosco, vai ter de também convidá-los para debater as nossas posições", disse.
Marina mandou recados para a direção do PV, próxima do PSDB e inclinada a manifestar apoio imediato a José Serra. O PV participava da gestão tucana no governo de São Paulo e estava coligado com os tucanos no Rio de Janeiro.
"A nossa decisão será uma decisão que não tem nada a ver com a velha política que se apressa em manifestar uma posição só para vislumbrar pontos lá na frente", cutucou.
Por sua trajetória e seu perfil, a tendência pessoal de Marina é apoiar a candidatura do PT. Sem dúvida, seria uma grande ajuda para Dilma se Marina viesse a público manifestar seu apoio. Mas como essa é uma possibilidade incerta, resta à campanha de Dilma não perder tempo e já começar a construir discursos, propostas e iniciativas para buscar a adesão do eleitorado que votou em Marina no primeiro turno.
Precisa, também, capitalizar as importantes vitórias conquistadas pelos partidos da base de apoio do governo Lula nas disputas para governos estaduais, Senado e Câmara Federal. Revigorados pela vitória e desobrigados da tarefa de buscar a própria sobrevivência nas urnas, estes governadores, senadores e deputados eleitos devem ser chamados a dar uma contribuição ainda mais incisiva à vitória de Dilma no segundo turno do que deram no primeiro turno.
Em 2006, a campanha de Lula pela reeleição conseguiu, no segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB), não só atrair os eleitores que deram votos a outros candidatos no primeiro turno, como também arrancou uma parcela considerável dos votos do próprio tucano. Fez isso desmascarando a candidatura da direita e mostrando aos eleitores os perigos que a volta ao passado neoliberal representa.
Agora em 2010, quando o encadeamento dos fatos mostram um quadro muito semelhante ao de 2006, não há motivos para que Lula, Dilma e seus aliados não lancem mão desta estratégia. Afinal, Serra, mais do que Alckmin, carrega consigo as marcas de um passado desastroso que o Brasil não quer de volta.